Edifício de Uso Misto Sol Nascente
Ceilândia, DF, Brasil
2017
6.310m²
Arquitetura: Celio Diniz, Raíssa Rocha, Daniel Sousa e colaboração de Luís Felipe Vasconcellos
CONCEITO Mais do que simplesmente oferecer novas unidades habitacionais, é preciso construir o sentido de lugar, de pertencimento e permitir que os moradores façam suas apropriações, do contrário, o habitat será estéreo. É necessário criar valores de cidadania e dignidade promovendo a inclusão social dos novos moradores. A urbanidade é condição primordial do projeto. O incentivo à utilização do ambiente público articulado aos espaços privados se reflete na concepção das edificações e no equilíbrio entre habitação e comércio.
CONTEXTUALIZAÇÃO URBANA A área de intervenção representa o primeiro passo da reestruturação urbana de uma localidade pouco desenvolvida, carente de infraestrutura e equipamentos públicos. As quadras que receberão as novas edificações farão a interlocução entre o tecido urbano ocupado atualmente e a malha projetada pelo plano de regularização urbanística e fundiária de Sol Nascente. Os edifícios a serem construídos nos lotes elencados para este concurso desempenharão relevante papel na construção da paisagem urbana local, principalmente por serem adjacentes às áreas ocupadas predominantemente por residências unifamiliares de um ou dois pavimentos. A integração dos edifícios propostos é feita através da qualificação dos espaços públicos e semi-públicos além da oferta de comércio e de serviços tornando-os referências na nova dinâmica urbana do bairro.
PREMISSAS DE PROJETO É importante entender que a configuração do nível térreo das novas edificações de uso misto vai delinear a vocação dos espaços públicos projetados. Nesse sentido, é proposta uma setorização que define a localização das lojas e moradias seguindo a lógica das características do espaço urbano. O comércio e os serviços são dispostos preferencialmente ao longo das vias públicas equipadas com estacionamento de veículos. A praça que conecta os lotes é transformada em um espaço central, um núcleo potencializado pelo comércio lindeiro e pelos acessos dos blocos habitacionais. Em contrapartida, as unidades de habitação se encontram nas vias opostas onde o desnível entre o térreo e a via pública é bem-vindo provendo mais privacidade aos moradores. As lojas comerciais seguem a modulação estrutural das unidades habitacionais dos pavimentos superiores (8,15m) garantindo um sistema de estrutura claro e simplificado. O máximo esforço foi feito para contemplar o maior número possível de famílias com espaços de qualidade. São 888 unidades propostas ou 3.179 pessoas distribuídas nas seis quadras, considerando 3,58 indivíduos por domicílio, conforme PDAD 2015. Com o objetivo de conseguir o melhor aproveitamento da taxa de construção e consequentemente atender ao maior número de famílias, as unidades habitacionais são distribuídas em quatro blocos distintos. A variação entre eles é feita apenas no pavimento térreo e na forma como são dispostos nos lotes, trazendo alguns benefícios ao conjunto. A monotonia da volumetria é quebrada uma vez que as fachadas são diferentes apesar de seguirem a mesma modulação. Cada bloco tem seu acesso voltado para uma rua diferente ou para as esquinas da praça. Dessa maneira, a vivacidade dos espaços públicos pode ser ativada de maneira equilibrada.
PÁTIO COMUM A tipologia do pátio interno de caráter semi-público reforça o gradiente público-privado dos espaços propostos. Com boa oferta de insolação por conta de suas dimensões, o espaço interno é valorizado podendo oferecer jardins, horta ou pequenos pomares para os moradores e para o restante da comunidade. É o quintal comunitário. Um acesso generoso e convidativo conecta o interior ao exterior funcionando também como mais um espaço informal de permanência. Nos andares superiores, varandas e sacadas voltadas para o dentro e para fora oferecem espaços extras de permanência e socialização.
DESNÍVEIS DO TERRENO A estratégia de construção de quatro blocos por quadra resulta em maior precisão no assentamento das edificações pelos diferentes níveis do terreno. Cada edifício tem sua cota de soleira que define o plano dos pátios internos e das unidades habitacionais localizadas no térreo. Apenas as lojas tem níveis diferentes que acompanham o caimento das vias públicas. Os estacionamentos que atendem aos prédios se encontram em cotas intermediárias.
TIPOLOGIAS DAS UNIDADES HABITACIONAIS Os benefícios da combinação de diferentes tipos são importantes para a iteração social e cultural entre os moradores e para o crescimento individual como cidadão. Habitações de dois e três quartos são projetadas no térreo e nos demais pavimentos com o intuito de atender às mais diferentes famílias.
ECONOMICIDADE E PADRONIZAÇÃO Habitação de interesse social não significa necessariamente baixa qualidade. Pelo contrário, é preciso propor soluções que diminuam os custos de construção e manutenção sem prejudicar a qualidade dos espaços, principalmente com relação ao conforto ambiental das unidades. A modulação estrutural, sistema construtivo e padronização são determinantes para a redução dos custos e tempo de obra. Todas as unidades propostas são padronizadas seguindo a mesma modulação estrutural.
GARAGENS Construção de subsolos para garagens foi evitada para não elevar os custos de obra. Trinta e oito vagas descobertas e cobertas são oferecidas entre os prédios sem comprometer a urbanidade.
SISTEMA CONSTRUTIVO Pelo princípio da economicidade, adotou-se o sistema estrutural em concreto com vedações em alvenaria pintada. O rigor na modulação da estrutura permite a utilização de elementos pré-fabricados.
CONFORTO AMBIENTAL O clima da região é classificado predominantemente como tropical de savana. Durante o inverno, o clima frio e seco sugere estratégias de conforto que utilizem a massa térmica dos elementos construtivos para aquecimento dos ambientes internos. As grandes amplitudes térmicas diárias indicam a importância da inércia térmica dos materiais tanto para aquecimento como resfriamento. Nesse sentido, o projeto propõe paredes externas com espessura de 26 cm compostas por duas fiadas de tijolos com furos, que garantem um atraso térmico de 6,5 horas. As divisórias internas são projetadas em tijolos maciços (15 cm de espessura), com 255 KJ/m²K de capacidade térmica e atraso térmico de 3,8 horas. A cobertura, leve e isolante, é projetada em telha termo-acústica sobre laje de concreto garantindo um valor de transmitância térmica inferior a 2,00 W/m²K. Nos dias quentes, a ventilação cruzada é possível em todas as unidades graças ao pátio interno. O sombreamento das aberturas nas fachadas é realizado pelos recuos das esquadrias em relação à testada do edifício. Nos dias frios, a ventilação seletiva é interrompida em todos os cômodos, exceto nos banheiros. Aliada à utilização de vegetação no interior das unidades, a ventilação seletiva impede a entrada do ar seco e saída do ar umidificado pela evapotranspiração, melhorando de forma passiva o conforto higrotérmico.
SUSTENTABILIDADE Além do emprego de estratégias passivas de conforto térmico que por si só já garantem uma substancial redução no consumo energético, são previstos mecanismos para a racionalização da energia. Locais são reservados na cobertura para a instalação de equipamentos de aquecimento solar, reservatórios de água quente e placas fotovoltaicas para geração de energia limpa. Águas pluviais serão filtradas e armazenadas em reservatórios específicos localizados junto à cisterna principal no subsolo. O reuso das águas da chuva deve ser destinado aos vasos sanitários e jardins.
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