Circo Voador

Rio de Janeiro, rj, Brasil

2001 / 2004

1º colocado em concurso

1.143m²

Arquitetura: Celio Diniz, Eduardo Canellas, Eduardo Dezouzart e Tiago Gualda

O princípio do projeto é o movimento. O movimento da música e da dança, do rock e da gafieira, das pessoas que circulam, que se encontram. O movimento circular do beijo, do abraço, das mãos que se acariciam. Das escadas, e das rampas de Santa Teresa, do bonde, do sol, da lua e das estrelas que giram no céu. Das sombras das palmeiras e dos arcos que rodam durante o dia, fugindo do sol. Enfim, o movimento de um circo que quer voar.

HISTÓRICO O Circo Voador, importante equipamento cultural carioca e berço de importantes bandas do cenário nacional desde o início da década de 80, teve seu fechamento decretado em 1996 pela prefeitura da cidade. Em meados de 2001, após a estruturação do movimento em prol da reabertura do Circo, a prefeitura lançou concurso nacional de projetos de arquitetura para sua construção no mesmo local, na área da Lapa, mas com o terreno diminuído.

CONCEITO A proposta do novo Circo Voador é baseada na criação de formas e espaços dinâmicos com forte identidade sem, no entanto, abandonar o despojamento característico do Circo original. Ainda como premissa mantida no novo projeto, a permeabilidade dos espaços foi buscada a todo instante enaltecendo o movimento das pessoas pelas rampas, jardins e varanda. As edificações descolam-se do solo gerando uma planta geral versátil. Os espaços internos se confundem com os externos reiterando o caráter democrático do novo Circo.

CONTEXTO URBANO A Lapa, área periférica do centro da cidade, adjacente ao bairro de Santa Teresa e de relevante importância na cultura e história cariocas, é hoje uma importante área de preservação do patrimônio cultural e arquitetônico e, ao mesmo tempo, uma área de crescente revitalização e reconversão de edificações, antes residenciais, que agora abrigam atividades culturais diversas. Inserido neste contexto, o terreno do Circo sofre especial interferência do antigo aqueduto da cidade, hoje conhecido como “Arcos da Lapa” e funcionando como ponte do bonde de Santa Teresa. Sua imponente presença, aliada à situação paisagística preexistente, foi determinante no projeto e sua implantação.

IMPLANTAÇÃO Optamos por trabalhar a Nave Principal, edificação de maior volume, com uma forma esférica simples, uma lona de PVC, que “nasce” por entre as palmeiras, de altura inferior ao próprio aqueduto antigo, transformando-o em pórtico de entrada de todo o complexo. Desta forma, os Arcos da Lapa têm sua importância respeitada ao mesmo tempo que se integram ao Circo Voador harmoniosamente. A proposta é orientada por um gesto dinâmico de ocupação do terreno. Isto é possível graças à utilização de um sistema que organiza os elementos do projeto em torno de um vórtice distribuíndo-os pela periferia do terreno. As edificações estão em meio a um turbilhão, gerado pela instabilidade da Nave Principal. O grande eixo de palmeiras existentes articula as duas principais áreas do terreno, entrecortado transversalmente por diversos caminhos rasgados por entre jardins. Luz e sombras projetadas pelo sol definem espaços e sensações. O novo Circo deve funcionar com diferentes horários e escalas de acesso de público. O público noturno chega através do Largo da Lapa tendo uma visão parcial do conjunto, emoldurada pelos arcos do antigo aqueduto. Após a transposição deste portal, ocorre a apreensão dos espaços, a visada da grande lona iluminada, a identificação do cenário e atores. O público diurno utiliza um acesso de escala reduzida para atividades de menor porte, localizado na rua projetada, fruindo de uma agradável e lúdica perspectiva dos jardins de flores vermelhas e alameda das palmeiras com os Arcos ao fundo.

ACÚSTICA O tratamento acústico, inteiramente baseado nas normas ABNT 10.151 e ABNT-NB-10.152/1987, foi determinante no desenvolvimento do projeto. A primeira atitude foi direcionar o palco, antigamente voltado para Santa Teresa, para os Arcos da Lapa. Para diminuir os índices de emissão sonora do Circo, a pele de PVC que cobre a Nave Principal recebeu sob si outras camadas de lona com lã mineral tubular e plana, formando uma membrana com espessura média de 20 cm e peso de 20 Kg/m², que isola o som tanto de dentro para fora como no sentido inverso, garantindo qualidade acústica no interior da nave para música eletroacústica e acústica. Para evitar a propagação do som através da abertura para ventilação acima do palco, foi criado um sistema composto por várias placas dispostas lado a lado, que absorvem as ondas sonoras, impedindo a passagem de ruído.

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